quinta-feira, 5 de julho de 2012

Escritos

Encerro esta "temporada" do blog com alguns escritos de gente como a gente...




Feminino e Masculino - Parte 1
Fábio Sabiá

O agora é meu tempo,

Mas também conheço o passado.

Agora é que são elas?


Posse é mulher,

Dona é a mulher.

E eles? Instrumentos delas!


O olfato é deles, o perfume é delas

A guerra é deles, o motivo são elas.

Os rumos da Nação traçados por eles,

Para saciar os desejos delas

O terreno é dele, a casa é dele

Mas tudo é pra ela.


Homens mandando? Não!

Co-mandando, quem manda são elas.


A verdadeira lei é a ação moral.

Quem fiscaliza a moral? Elas.

Porque agradar a moral?

Para agradá-las.

  
A seleção da rainha é competição natural

Onde o poder se estabelece.

Beleza é argumento,

É política.


Política?! Sexual.



Que Venham
César Félix

Que venham as flores e através delas,
teu colo e a certeza do teu amor.
Que venham os problemas e acompanhado deles,
a paz e a rebeldia necessária para enfrentá-los.
Que venha o sucesso, acompanhado dele,
a certeza de que nada que se construiu foi sozinho.
Que venha teu corpo em fúria,
tua alma em chamas e teu pecado refletido em atitudes.


A água flui (aonde o som se esconde)
Assis Monteiro

Os dias passam e a água corre
triste-mente despenca acordes
desenha caminho nos barrancos
salpica insetos na superfície

Tive seca, por dias, sem água
sem saliva, sem lágrima, nada
durou corrosiva secura branca

E por fim que nasceu nascente
vibrou corrente, encheu lagoa
chiou pedra e estalou madeira

o cipó lambe o espelho d'água
distrai a correnteza tchuplam
assim transbordando este poço

e por fim que nasceu nascente
margem, profundo rio do tempo
carrega a vida, sendo destino
e o som que não esconde; vivo



"E tudo se perdeu entre nossos dedos, inclusive à vontade e o parir do agora, o olhar do tempo colorido, o refletido sonho em nossa memória. O hoje parece que pulsa ao contrário e a nossa juventude caminha sem rumo, sem endereço fixo, sem gosto, cambaleando procurando um prumo. Eu por aqui acerto o teu desenho, rabisco palavras e vejo o teu retrato. Daquilo que fomos perdeu-se a utopia, daquilo que somos só nos resta os fatos. Ontem pedia por um recomeço, hoje refaço obedeço a demora. Caduco um poema depois eu esqueço, eu olhei para o tempo e esqueci das horas". 
César Félix


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Se gostou, tem mais:
Assis Monteiro - Escritos de Assis
César Félix - São Demais os Perigos Desta Vida...
Fábio Sabiá - Fábio Sabiá


Créditos:
Foto - Mirela Patrício



quinta-feira, 28 de junho de 2012

Parto Humanizado

Recentemente, a questão do parto humanizado vem ganhando espaço para debate, inclusive na mídia. No post de hoje, trago um vídeo recomendado pela psicóloga e professora de Yoga Roberta Gasparino, informando melhor a respeito do assunto.



Para quem quiser ver o documentário na íntegra, ele está disponível na página http://dochanami.blogspot.com/


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Smartphones & Apps

Por Ademar Izu, programador



A menos que você tenha vindo do passado, creio que você provavelmente deve saber o que é um smartphone, ou se não conhece por esse nome, provavelmente já deve ter visto um daqueles aparelhos celulares que ocupam toda sua mão, que não possuem botões e que para tudo você tem que ficar tocando em sua tela. Sim, eu sei que esses aparelhos são celulares, mas eles estão longe de serem “apenas” celulares; afinal o “smart” não está ali por acaso, não é?

De todas as diferenças que existem entre celulares comuns (também chamados de dumbphones) e os smartphones, a principal está na enorme variedade de aplicativos que é possível encontrar para estes. Claro que nem todas as aplicações (ou simplesmente apps) são úteis. Muitas são de uma simplicidade tão grande que dá até um pouco de vergonha de não ter feito antes (ou talvez se sentisse muito  mais vergonha de ter feito?). Outro fator que chama muito a atenção sobre as apps é o valor atribuído a cada uma delas. Algumas custam por volta de R$50,00 ou mais, enquanto muitas outras custam por volta de R$2,10 (cerca de 99 centavos de dolares americanos) e muitas, mas muitas mesmo, são oferecidas de de graça. E não pense que apenas porque são de graça que não sejam bem feitas, muitas são mais bem feitas que aplicativos pagos.

Agora você deve estar perguntando: “E então, como se ganha dinheiro com aplicativos?” Em alguns casos, é bem óbvio, uma vez que são pagas; em outros casos é preciso um pouco mais de criatividade e sorte, é claro.



Muitos aplicativos dependem apenas de propaganda como fonte geradora de renda. Esse é o modelo mais simples de arrecadação para aplicativos gratuitos, e também é um dos menos rentáveis eu diria, uma vez que é necessário que o usuário “clique” na propaganda para que a aplicação ganhe alguns centavos.

Outro modelo que tem feito bastante sucesso (é apontado como responsável por 72% da arrecadação em aplicativos para iPhone em 2011) é o modelo chamado de “Freemium”, onde geralmente os aplicativos são grátis (daí a origem do “free”) mas são incompletos. A diferença é que de dentro deles é possível comprar melhorias, ou o usuário tem que pagar para habilitar algumas novas funções.  É muito comum ver jogos usando esse tipo de abordagem, quando é possível comprar itens que tornam o jogo mais fácil ou mais interessante.

É claro que a abordagem “In App Purchase” não é exclusividade de aplicações grátis, mas o usuário pode achar ruim pagar por uma aplicação e depois ter que pagar mais um pouco para ter extras.

Alguns programadores independentes preferem fornecer o aplicativo sem propaganda e sem custo nenhum ao usuário, mas pedem que se você realmente gostou do trabalho deles, faça uma doação ou para eles mesmos (alguns, gentilmente, pedem uma cerveja) ou para uma instituição de caridade que eles apoiam. Essas doações podem ser feitas através de paypal (geralmente colocam um botão em seus sites) ou usando o mesmo método do “In App Purchase” do modelo “Freemium”.

Bom, espero que tenha ficado um pouco mais claro a forma como os programadores e empresas ganham dinheiro com aplicações para celular. Na próxima vez que vocês abrirem um aplicativo com propaganda, que tal dar um cliquezinho e ajudar um programador a pagar suas contas, ou simplesmente pagar uma cerveja para ele? ;)

Fontes:

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Outras Histórias na Mesma Pisada

Neste sábado, 16 de junho de 2012, haverá a festa de 10 anos do Arrasta Ilha, associação cultural de Florianópolis que pesquisa e apresenta ritmos da cultura popular brasileira - como o maracatu de baque virado de Pernambuco e o Boi de Mamão de Santa Catarina.

Em 2006, um documentário sobre o grupo, chamado "Outras Histórias na Mesma Pisada", foi produzido por Dannyelle Meireles e Martha Dias. No post de hoje, trago uma pequena edição do documentário, com algumas partes que dão uma idéia sobre o grupo e que, no meu caso, deixam saudades...


Para os que se interessarem pelo grupo, o site deles é http://arrastailha.blogspot.com.br/
Nessa página, podem-se encontrar o documentário na íntegra e os detalhes da festa de sábado, que será no Galpão Crioulo - Rio Vermelho, Florianópolis, às 14h.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Informática Educacional

Nesta semana, um site de informática educacional trazido pelo 'Tio Márcio'. O site, que foca mais na questão da educação infantil, traz artigos sobre o assunto, dicas, projetos, vídeos, fotos, jogos e muitas outras coisas interessantes. Vale conferir!!!

O site é http://tiomarcio.wix.com/tiomarcio#!

Créditos:
Imagem disponível através do site http://www.freedigitalphotos.net

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Floripa e o pedal: uma crônica, uma denúncia


Por Igor Gadioli



O entardecer da ilha chega na hora do rush. Uma garoa fina cai do céu fechado. As vias são dos carros, mas isso não impede minha presença na rua, e agora paro minha bicicleta no sinal. Montado na magrelinha em uma brecha apertada de asfalto, me sinto um bicho acuado pelo ronco das máquinas; enquanto o pé espera no chão e o olho espera a luz verde, uma sarjeta profunda aguarda no caminho. Tento pensar rápido, não quero deixar que os motores ao meu redor pensem por mim.

A sarjeta é perigosa e ocupar a rua é um risco - visto da minha engrenagem orgânica, carros em movimento são velozes toneladas de ferro, e nada mais; são ameaças impacientes. O sinal abre e eles agora fluem rasantes ao meu guidom, até que um retrovisor toca meu casaco rapidamente. É como se um segurança de bar encostasse em meu ombro, num desafio velado: você pode conosco?

Não posso com eles. A seguir do toque, vacilo para a direita e esbarro na guia. Pulo para fora do selim com os olhos saltados, agarro a bicicleta com as mãos e, num arranque, estou na calçada. Enquanto assisto a dezenas de carros engolirem minha brecha de rua, monto novamente na bicicleta e já começo a esquecer do susto, imprudência quase necessária para um ciclista na ilha. Calçadas vazias me deixam terminar mais uma viagem a salvo, um dia por vez.

A salvo até quando? De acordo com o Código Nacional de Trânsito, as bicicletas são veículos e têm direito de transitar na malha viária no sentido do fluxo de carros e com 1,5 metro de distância guardada desses carros, independente da existência de ciclofaixas. Mas quem leva isso a sério? Em Florianópolis, motoristas são pouco gentis com ciclistas e pedestres, e a distância de 1,5 metro prova-se uma piada de mau gosto em qualquer pedalada.

Um estudo de 2009 feito na UnB indica Floripa como a capital de pior mobilidade nacional. A cidade tem hoje 40 km de ciclovias, mas são 40 km quase inúteis para se chegar ao trabalho ou ao mercado. São 40 km quebrados em trechos isolados entre si de até menos de 4 km, respingados por uma cidade tomada de engarrafamentos diários. Perto de uma dessas ciclovias, dois ciclistas foram mortos só no início de 2012. E outros, muitos outros, vivem a tensão dos carros rasantes dia após dia, à mercê de um toque de retrovisor ou um golpe violento de para-choque para, enfim, descerem do selim e se juntarem, resignados ou não, à imponente tropa de fumaça e metal.

Créditos:
Imagem disponível através do site http://www.freedigitalphotos.net

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ponta do Leal

Um vídeo da arquiteta Laila Loddi sobre a aproximação entre universidade e cidade. O vídeo traz uma visão da Ponta do Leal, comunidade de Florianópolis com cerca de 50 anos de existência. Em 2008, a prefeitura da cidade propôs uma medida para tirar os moradores de lá e levá-los a dois terrenos distintos, em diferentes áreas da cidade. A proposta foi recusada pelos habitantes, pois estes têm medo da violência que afeta estes outros bairros. O vídeo inclui uma conversa com o líder da comunidade, João Luiz de Oliveira, que discute a decisão dos moradores de não saírem do local.



quinta-feira, 17 de maio de 2012

Cidadão Invisível

Será que existem negros no sul do Brasil? Esta questão é posta em pauta no documentário "Cidadão Invisível" de Alexandra Alencar. Um pouco da fase embrionária deste documentário em formato de áudio, como apresentado pela Rádio Ponto UFSC. É só clicar no link abaixo...



quinta-feira, 10 de maio de 2012

Roda Viva


Em uma recente e rápida visita que fiz com Aline a Floripa (da qual chegamos hoje), uma das coisas que mais me encantou foi ver a gurizada de alguns dos nossos familiares e amigos crescendo e desenvolvendo personalidades diversas - algo que também sempre me deslumbra quando visito meu sobrinho e os filhos dos amigos na Paraíba.

O post desta semana traz um pessoal que lida bem com esses pequenos homens e essas pequenas mulheres: o Grupo Cultural Roda Viva, que resgata brincadeiras populares e cria um espetáculo para pais e filhos. O grupo lançou seu primeiro CD este ano, o qual tive o privilégio de ouvir sob direção coreográfica da minha prima-sobrinha Lis, que tratou de me mostrar e tentar ensinar todos os passos das canções, enquanto discutia seus gostos comigo. Pena que ainda não vi ao vivo.

No primeiro vídeo, um pouco do grupo em si. No segundo, os depoimentos de duas professoras sobre o trabalho que eles estão fazendo nas escolas e comunidades da Ilha de Santa Catarina. Espero que curtam...




Para quem ficou interessado no grupo, o blog deles é http://www.grupoculturalrodaviva.blogspot.com.br/

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Uma breve pausa


Nesta semana e na próxima, estou envolvido em alguns eventos; portanto, não dedicarei tempo ao blog. As postagens voltam daqui a duas semanas, no dia 10 de maio.

Obrigado e até breve

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A Esquina da Europa

A fotógrafa gaúcha Cris Sanfelici mostra um pouco de sua exposição "A Esquina da Europa". O trabalho, que esteve recentemente em cartaz na Casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre juntamente com outras coleções da fotógrafa, apresenta fotos da Hungria, Eslováquia, Áustria, República Tcheca e Polônia – parte do tão instigante e renovado Leste Europeu.


Por Cris Sanfelici

O Leste Europeu é a “esquina” mais polêmica, controversa, politizada, colorida, surpreendente e encantadora do velho continente.

De montanhas a castelos, de ilustres poetas tchecos a ícones da música clássica vienense, de desonrosos campos de concentração a inovações arquitetônicas que impressionam... Historicamente brava e lutadora... Eternamente enfeitiçando por seus sabores únicos e colorido gracioso... Com uma magia musical que pode muito bem ser fruto da imaginação durante uma caminhada por tão belos cenários...



Viena - Roda Gigante




Marcas da Guerra - Budapeste



Bratislava - Eslováquia



A Chama



O Tempo



Flor do Terror



Lodz - Polônia

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Estes e outros trabalhos podem ser apreciados e adquiridos no site da fotógrafa: www.wix.com/cris_sanfelici/cris_sanfelici

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Mudanças Climáticas na Amazônia

O vídeo "Mudanças Climáticas na Amazônia do Joalace", dirigido por Bob Barbosa, aponta para os olhares, para as dúvidas, e para as certezas da ciência e das comunidades ribeirinhas diante das alterações do clima amazônico.


Produzido pelo Projeto Saúde & Alegria, nas comunidades do Canal do Aritapera, no Rio Amazonas, com apoio da Instituição Alemã Lateinamerika-Zentrum.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Feliz Páscoa em Notas Clássicas

Um desejo de Feliz Páscoa a todos ao som da Missa Número 2 em Sol Maior de Schubert, interpretada pela Polyphonia Khoros e pela Camerata de Florianópolis. A Camerata tem a violinista Iva Giracca, que presenteou a mim e a Aline tocando no nosso casamento.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Educação a Distância

Um vídeo da designer instrucional e estudante de cinema Daniela Ioppi, trazendo um apanhado sobre a dinâmica dos cursos a distância oferecidos pelo Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina. Para os que têm pouca intimidade com a Educação a Distância (Ead), o vídeo oferece um panorama dos papéis dos diferentes agentes do processo pedagógico.


Agradeço a Raquel D'Ely e Donesca Xhafaj pela ajuda que me deram para que eu tivesse acesso ao material.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Memórias do Deserto

Por Milena Argenta, antropóloga [i]


“A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.”

(José Saramago – Viagem a Portugal)


Deserto. Terra de pura possibilidade, de desejo e medo. Inacessível, inexistente, um objeto de divagação, uma negação que gera tamanha ansiedade com a possibilidade imaginativa que ele oferece e ao mesmo tempo nega, pela impossibilidade de dominá-lo, de visualizar o outro lado. Sua inacessibilidade é assustadora e tem um papel determinante em nossa percepção daquilo que, ingenuamente, tomamos por acessível, que podemos perceber, vivenciar, tocar. Imaginável, porém, o inacessível se torna elusivo: a partir da ausência, daquela presença imaginada, construímos nossas percepções do que se mostra aos nossos olhos[ii]. Como não se fascinar com a irrealidade do deserto, sua possibilidade, o jogo de real e miragem que ele propicia?

Com este fascínio, mistura de euforia e medo, parti rumo ao outro lado do Atlântico. Lá, entre as dunas de areia do deserto do Namibe e o município do Tômbua, a savana extensa que se espalha do Virei ao Kuroca e mais ao sul até o Iona, confrontei a minha África imaginada, musicalmente idealizada e ao mesmo tempo depreciada pelos olhares obscuros que circulam do lado de cá, com a África dos sujeitos reais, que constroem seus caminhos ao longo da caminhada, improvisam com criatividade num cotidiano culturalmente rico, guiados por uma sabedoria ancestral que se renova a cada passo. Há, certamente, muitas Áfricas, urbanas e globalizadas, tecnológicas, dos Iphones, Ipads, Land Rovers e demais artigos de luxo que do lado de cá imaginamos como exclusivamente nossos. Há sim a África que ainda sofre com o peso de um colonialismo que nunca acaba, da exploração desgovernada, da pobreza, das doenças e outras mazelas, mas esta é a África que o resto do mundo pensa que já conhece. O meu convite aqui é para viajarmos por uma África que é muito minha, já que as histórias são sempre contadas a partir dos olhos de quem vê e constrói uma narrativa. Mas é também a África dos pastores do sudoeste de Angola, que se deslocam em transumância entre o deserto, a savana e a estepe, uma região de extensas terras comunais e pastagens naturais, de belezas exuberantes.


Foto 1: Detalhe da mãe que leva seu bebê às costas. Região do Kuroca, província do Namibe, Angola. Setembro de 2011.


Extremo sul de Angola, sob um sol que arde e distorce os contornos do horizonte distante, dunas de areia reluzem em dourado brilhante, crescem e desaparecem, movem-se com o vento em formas mutantes, estendem-se para além do alcance dos olhos ansiosos. A vista é horizontal e extensa, rasgada, é a paisagem que conduz o olhar. Uma leitura só possível: “largar o olhar pela esteira oblíqua dos ocres que se cruzam vastos e rasteiros, velozes, sem fim nem começo, uns derramados de outros, depois soltos, a renovar matizes ao sabor do vento”[iii]

Foto 2: Casas na à beira da lagoa, no oásis de Njambasana, Kuroca, Namibe. Outubro de 2011.


A oeste, próximo à costa, formam-se oásis e se precipitam lagoas de sal. É onde vai beber o gado conduzido por um pastor há dias em transumância, a procura de água e sal ao sol. Está em busca das pastagens naturais que ele bem sabe onde e quando lhe convém encontrar, e conduzir até lá o gado do qual toma conta, do seu pai ou do seu avô, algumas cabeças são suas, recebidas como herança no funeral de seu tio materno.

Foto 3: Bezúa, jovem pastor em sambo no Kuroca. Setembro de 2011.


É jovem ainda, deleita-se em algazarras libidinosas com meninas também em idade de sexualidade irreprimível e ansiosa, e descansa nos sambos, acampamentos que acolhem os pastores após longos dias e noites silenciosas de trânsito. O gado é a jóia em torno da qual giram os mistérios destes lados e por isso é acumulado e não consumido. É a ele, disperso, espalhado nas mãos de muitos homens e em quantidade muito maior do que o que se mantém aos seus pés, que se deve toda a riqueza de um homem do deserto.

Foto 4: Gado da região do Iona, extremo sul da província do Namibe. Novembro de 2011.


Por caminhos de areia e arbustos secos de acesso restrito aos caminhantes, no máximo aos ruminantes, elas surgem às vistas... filhas da areia escaldante e do horizonte, crestadas pelas nuances das miragens, afagadas pelo sol. As mulheres exibem um caminhar lento, jamais com pressa, uma arte de andar leve e ao mesmo tempo firme, com seus rebentos presos às costas, equilibrando trouxas, bacias ou maços de lenha no topo da cabeça.

Foto 5: Mulheres transportando galhos para a construção de uma casa. De trás para frente: Kai, dona Joaquina Muantengulila e Ana Paula Tuya. Kuroca, Namibe. Setembro de 2011.


Os corpos perfumados e ornamentados com panos, contas, pulseiras, tiras de couro, braços e pernas, sorridentes, fortes. São elas que transmitem às gerações seguintes as linhagens que unem grupos e designações étnicas diversas, Kuvale, Himba, Curoca ou Kwepe, em famílias mais amplas que se espalham por um vasto território de cultura pastoril.

Foto 6: Mukaakito. Kuroca, Namibe. Setembro de 2011.


Foto 7: Bavaluluca. Kuroca, Namibe. Setembro de 2011.


As crianças aprendem desde pequenas a pastar o gado, a reconhecer cada uma das plantas e arbustos que os cercam, percebem a presença oculta de animais selvagens em rastros e pegadas na areia, numa relação de respeito e interdependência com um ambiente que lhes serve de casa e se mostra tantas vezes hostil aos que não dominam desde muito cedo, como eles, os mistérios deste deserto. Crescem sob o cuidado e a proteção dos ancestrais, que lhes aparecem em sonhos, lhes guiam nos tratamentos e na cura, lhes acompanham em espírito pelos caminhos que escolhem ao longo da vida.

Foto 8: Crianças jogando Huela na região do Kuroca, Namibe. Setembro de 2011.


Em três meses vivendo nessas terras, sentada ao redor do fogo em noites frias, comendo da mesma panela, dormindo sobre a mesma areia fofa, tive meu encontro com o outro. Um encontro de curiosidades recíprocas, na verdade, entre dois outros e dois eus. Os de antes profundamente transformados nos de agora, ainda muito e cada vez mais curiosos. Deixei Angola com um senso de aproximação ao inacessível, o inesgotável que me causa ainda certa angústia, mas que expandiu enormemente meu horizonte de imaginação, meu desejo, um anseio por novos encontros – efeito primordial e fascinante, o valor inestimável do ato de viajar.


Créditos das fotos:

Os direitos autorais de todas as imagens são de Milena Argenta. Nenhuma delas pode ser copiada ou publicada sem autorização prévia.


[i] Agradecimentos especiais ao programa de pós-graduação em antropologia social, da universidade federal de Santa Catarina; ao Núcleo de Estudos de Identidades e Relações Interétnicas (NUER/UFSC); e ao Centro de Estudos do Deserto (CE.DO), no Namibe, Angola, que viabilizaram minha viagem ao sudoeste de Angola.

[ii] Elocubrações de Victor Crapanzano (2005), em “Horizontes Imaginativos e o aquém e além”. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, V. 48 Nº 1.

[iii] Palavras de Ruy Duarte de Carvalho (2000), em “Vou lá visitar pastores: exploração epistolar de um percurso angolano em território Kuvale (1992-1997)”. Rio de Janeiro: Gryphus.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Músicos Mundo Afora

Nesta semana, trago quatro vídeos distintos de projetos e experimentações musicais.

Primeiro, tem o vídeo oficial do "Eutopía - Festival Internacional de la Creación Joven", realizado na Espanha, com o goiano Fábio Sabiá.

Em seguida, tem um dos vídeos de Erik Dijkstra pelo projeto MIMA Music, uma organização intercultural que oferece oficinas de música em comunidades ao redor do mundo.

O terceiro vídeo foi especialmente feito para o "Gente Como a Gente" pelo músico experimental Peter Gosweiler, que já se apresentou em diversas partes do mundo.

O post termina com o vídeo do grupo Margem Esquerda, que foi um espetáculo que unia poesia, música e dança para criar uma linda mistura de ritmos brasileiros.









Para os que ficaram interessados nos músicos e/ou projetos, aqui vão alguns endereços:

Fábio Sabiá - www.fabiopoeta.blogspot.com
Festival Eutopía - http://www.festivaleutopia.org
MIMA Music - www.mimamusic.org
Peter Gosweiler - http://www.youtube.com/user/petergossweiler
Margem Esquerda - http://margeandopoesia.blogspot.com

quinta-feira, 8 de março de 2012

Globalizados e Digitalizados



O ano era 1994. Eu era um adolescente de recém-completados 14 anos e fui, acompanhado de minha mãe (ou teria sido meu tio Romero?), até a Universidade Federal da Paraíba – Campus 2, atual Universidade Federal de Campina Grande. Minha mãe (ou meu tio, enfim) me levou até uma sala onde, pode-se dizer, me deparei pela primeira vez com um dos processos que estavam mudando a maneira da gente entender e experimentar o mundo. Na sala, havia um computador com tela preta e letras verdes que traziam a mensagem escrita pelo meu pai desde Newcastle upon Tyne, na Inglaterra. A mensagem era simples; dizia onde iríamos morar, estudar, e como era a vida naquela cidade que seria nosso lar (meu, dos meus pais e dos meus irmãos) pelos próximos 3 anos. Respondi e perguntei à pessoa que tomava conta do computador quanto tempo levaria até que meu pai recebesse a resposta. “Já está lá”, disse ele. Eu não acreditei.

Doze anos depois (3 em Newcastle, 1 em Campina Grande, minha terra natal, 6 em João Pessoa, e 2 em Florianópolis), uma outra experiência internacional me esperava: estava para embarcar para os Estados Unidos, país que sempre quis visitar. O fato de que ia para ser professor de uma escola pública já era interessante por si só, visto que mostrava que o tamanho fluxo de informações e de idéias que havia me deslumbrado tanto doze anos antes naquela sala de computador já se transformara em um fluxo de pessoas há muito tempo – algo que eu bem deveria saber, visto que a Inglaterra dos anos 90 em que vivi era um país que passava por este mesmo processo. O que mais me deslumbrava nos Estados Unidos, no entanto, era o quão pouco eu realmente entendia sobre este fluxo. Explico: para mim e para minha família, a experiência de viver na Inglaterra dos anos 90 era uma de deslocar-se fisicamente, culturalmente e linguisticamente, mas não nas esferas social e acadêmica. Eu e meus irmãos, por exemplo, já sabíamos o que era estudar, ler um livro, ter acompanhamento dos pais em casa. Questões linguísticas e culturais foram os únicos obstáculos que tivemos que superar, e nós nos fascinávamos com o desafio.

Meus alunos no lindo estado da Carolina do Norte, no entanto, também tinham que deslocar-se academicamente e socialmente para um mundo que ainda não os pertencia. Trabalhei com crianças que vinham de campos de refugiados, que nunca tinham estudado, que haviam salvado amigos menores em incêndios, que se juntavam a gangues na busca por algo ou alguém que os entendesse e que algumas vezes eram tirados de sala de aula para receberem a notícia de que os pais haviam sido presos. Visitei, juntamente com a assistente social da escola, inúmeras casas que não pertenciam, e nunca pertenceram, ao sonho americano – muito pelo contrário, eram lugares onde qualquer um de nós (eu, os funcionários da escola e os leitores do blog) jamais sequer pensaríamos em morar.

Aos poucos, enquanto eu ia refletindo sobre as condições deles e a minha, eu ia me dando conta de que a vida contemporânea de digitalização e diminuição das barreiras espaço-temporais é algo humano, no sentido de que envolve pessoas, sentimentos e vidas. Para muitos dos meus agora ex-alunos, talvez uma das maiores dificuldades seja se adaptar a novas exigências e, em alguns casos, à saudade de uma terra para onde não podem voltar. Para mim e para muitos como eu, fica a dualidade de sentimentos daqueles que se deslocam com certa facilidade, que constroem novos mundos e novos lares, e que gostam de viver esta vida de movimento, mas que já não têm o sentimento de pertencimento a este ou aquele lugar, e têm que viver com a saudade constante de lugares, cheiros, rostos e gostos. Em outras palavras, viver longe da minha esposa por um tempo, de minha família, e de muitos dos meus melhores amigos (dentre os quais fui um dos primeiros a sair de casa) me fez conviver com o entendimento de que, sim, o mundo havia ficado pequeno demais para nós, como me disse certa vez em São Paulo meu amigo Renato Catsro, que vive na China; mas me fez também chegar à conclusão de que ele também continua sendo enorme para mim e para muitos. Se é verdade que as barreiras entre as conversas de amigos e amores e os contatos entre parceiros comerciais diminuíram com tecnologias como o Skype e o Facebook, é verdade também que as distâncias entre os beijos, abraços, as conversas no bar, os brindes, as tocadas de banda e os sorrisos podem aumentar exponencialmente.

Não me entendam mal; hoje, esta dualidade faz parte de quem eu sou, e posso dizer que não só a entendo (até certo ponto), mas a aprecio e às vezes até a busco, pois sinto que ela, dualidade que é, me traz um certo equilíbrio. E foi exatamente ela que me motivou a começar esse projeto/hobbie do “Gente como a Gente.” Em cada novo lar que me abraça (e que abraço), conheço muita gente nova que tem histórias e opiniões interessantes para compartilhar, ao mesmo tempo que vejo que as pessoas de quem estou distante também vão vivendo coisas novas e criando mundos diferentes, aos quais talvez eu nunca pertença. Portanto, nada melhor, na minha opinião, que usar aquela ferramenta que conheci aos 14 anos para compartilhar algumas visões e experiências com as quais temos nos encontrado.

Não sei por quanto tempo continuarei com o projeto, mas espero que curtam esta “segunda temporada.” O formato mudou bastante, pois não consegui (e nem tentei) gravar uma conversa sequer; mesmo assim, consegui compilar um material bem legal (entre escritos, imagens, e gravações de áudio e vídeo) de pessoas que, de uma forma ou outra, estão ligadas a um momento lindo e definitivo na minha vida: os meus anos na Ilha de Santa Catarina, mais conhecida como Florianópolis – uma cidade onde vivi por apenas dois anos, mas que me deu uma nova visão de mundo e perspectiva sobre o que e quem eu quero ser.

Ah, e espero também que comentem bastante, para trocarmos algumas figurinhas, por mais próximo-distantes que estejamos…

Créditos:
Imagem do digitalart
website: http://www.freedigitalphotos.net/images/view_photog.php?photogid=2280